A morte do Papa Francisco, ocorrida em 21 de abril de 2025, marca um momento de profunda reflexão e comoção para a Igreja Católica e para o mundo. O pontífice, conhecido por sua simplicidade, humildade e dedicação aos mais pobres e marginalizados, deixa um legado que transcende fronteiras religiosas e culturais. Sua partida, aos 88 anos, vítima de um acidente vascular cerebral seguido de insuficiência cardíaca, encerra um papado de 12 anos que foi marcado por coragem, diálogo e uma busca incessante por justiça social. Em Roma, o clima é de luto e reverência. A Praça São Pedro, que tantas vezes foi palco das palavras e gestos acolhedores de Francisco, agora se transforma em um espaço de despedida e oração. Fiéis de todas as partes do mundo se reúnem para prestar suas últimas homenagens, enquanto os sinos da Basílica anunciam a perda de um líder que tocou profundamente os corações de milhões.
Neste contexto, conversaremos com o Padre Leandro Pereira – Missionário Servo dos Pobres – residente em Roma há 6 anos, e testemunha direta deste momento histórico. Ele compartilhará suas impressões sobre o impacto da morte do Papa Francisco na Igreja Católica, refletindo sobre o legado espiritual e os desafios que se apresentam para o futuro da instituição. Sua perspectiva nos ajudará a compreender como a figura de Francisco continuará a inspirar e guiar os fiéis em tempos de transformação e esperança.
- Como você se sente ao estar em Roma neste momento histórico da partida do Papa?
Pe. Leandro: “Para mim, é uma alegria estar em Roma por ocasião dos funerais do Papa Francisco e da realização de um conclave para a eleição de um novo sucessor de Pedro. Participar desses mistérios da Igreja envolve não apenas a participação e a eleição por parte dos cardeais, mas, acima de tudo, a ação de Deus, que acompanha a sua Igreja, ainda peregrina nesta terra. Papa Francisco deixa a Igreja em um ano jubilar, o que já é um grande sinal, pois o ano jubilar é sempre uma ocasião de esperança, renovação, perdão e de um acerto de contas pessoal com Deus. É uma oportunidade única de experimentar, de maneira pessoal, a imensa misericórdia que Deus direciona a todos nós. Papa Francisco foi um Papa que nos lembrou, continuamente, da misericórdia divina.”
- Você teve a oportunidade de ver o Papa pessoalmente?
Pe. Leandro: “Eu encontrei o Papa Francisco em quatro ocasiões. Dentre essas, a primeira, que se estendeu por vários dias, foi o Sínodo da Amazônia, realizado pela Igreja em 2019. Nesse evento, pude acompanhar um Francisco com muito mais saúde, um Francisco que caminhava entre as pessoas. Nos intervalos das audiências, dos encontros e das reuniões do sínodo extraordinário para a Amazônia, o Papa Francisco demonstrava seu carisma acolhedor, recebendo os grupos indígenas da região amazônica, além de muitas outras pessoas que participavam daquele momento histórico. Com paciência e atenção, ele escutava e acolhia a todos. Essa atitude refletiu o espírito que ele sempre manifestou ao longo de seu pontificado: o de um Papa da acolhida.”
- Como você acha que a comunidade local está reagindo a essa notícia?
Pe. Leandro: “O Papa Francisco tem uma forte conexão com a cidade de Roma, pois Roma é uma diocese cujo bispo é o próprio Papa Francisco. É interessante observar que os cardeais elegem o bispo de Roma, que também é o Papa da Igreja. Nas nossas orações eucarísticas, por exemplo, sempre rezamos pelo nosso Papa e Bispo Francisco durante as celebrações. O povo de Roma compartilha essa intimidade e proximidade, reconhecendo claramente que o seu bispo, o ‘meu bispo’, é o Papa Francisco. Por isso, a perda do Papa é sempre um momento marcante, capaz de encher a Praça São Pedro com fiéis que desejam prestar suas homenagens.”
- O que a liderança do Papa significou para você pessoalmente?
Pe. Leandro: “O Papa Francisco deu uma grande contribuição à Igreja, trazendo renovação e um ar novo. Ele foi o primeiro Papa a estudar teologia após o Concílio Vaticano II. Isso é evidente em sua atuação, já que ele foi formado dentro do novo modelo de Igreja proposto e implementado pelo Concílio Vaticano II. Por isso, o Papa Francisco tem facilidade em compreender o desejo reformador manifestado pela Igreja conciliar. Além disso, Francisco foi o primeiro Papa que teve contato direto com as pessoas, especialmente como arcebispo de Buenos Aires. Ele caminhou pelas periferias, sentiu e tocou as feridas das pessoas. Essa experiência única fez com que ele tivesse um discurso diferenciado com diversas comunidades, como a dos homossexuais e dos divorciados que vivem uma vida de fé dentro da Igreja. Essa abertura reflete uma característica essencial de Jesus Cristo. O Papa Francisco também inovou. Para quem vê a Igreja como algo rígido, com regras morais imutáveis, ele trouxe um novo olhar. Contudo, para aqueles que reconhecem a Igreja como fruto do Espírito, que se inspira em Jesus Cristo, suas ações não representaram grandes mudanças, mas sim uma interpretação e atuação alinhadas ao que foi o próprio Jesus.”
- Como você acha que a partida do Papa afetará a Igreja e os fiéis em Roma e no mundo?
Pe. Leandro: “O mundo se acostumou com um Papa próximo, um Papa que estende a mão, disposto a acolher e integrar, em vez de julgar e separar. Por isso, o mundo espera que o próximo Papa continue nessa estrada de acolhimento a todos, sem deixar ninguém para trás. Um Papa que não exclui ninguém, que olha a Igreja com os olhos do amor, como um pai misericordioso que sempre perdoa. A verdadeira Igreja, aquela com ‘I’ maiúsculo, é formada por mulheres e homens que, nesta terra, seguem os caminhos de Cristo. Essa Igreja, ao longo da história, sempre recebeu de Deus um Papa adequado às necessidades de cada tempo. Por isso, não devemos colocar os papas como antagonistas. Tanto João Paulo II, Papa Bento XVI, com sua extrema humildade, quanto Papa Francisco, com seu modo acolhedor, todos eles deram respostas concretas às questões do seu tempo. Muitos avanços ocorreram com o Papa Francisco, e o que esperamos do próximo Papa é que ele possa trazer sua contribuição pessoal, guiado pelo Espírito Santo, que de algum modo continuará soprando na nossa Igreja. Mais do que isso, esperamos que ele dê continuidade às mudanças iniciadas por Francisco. Essas mudanças não alteraram a doutrina, mas transformaram a forma como enxergamos a Igreja, colocando a pessoa em primeiro lugar. Esse foi o grande marco do pontificado de Francisco. Hoje, precisamos rezar e pedir que Deus conceda à Igreja um Papa com a capacidade de inovar no Espírito, de ocupar o lugar de Pedro e, ao mesmo tempo, de continuar o movimento de renovação iniciado por Papa Francisco”.
- Que mensagem de esperança você gostaria de compartilhar com os fiéis que estão preocupados com o futuro da Igreja?
Pe. Leandro: Nesses momentos de funeral e conclave, há dois comportamentos que, na minha opinião, um cristão deve adotar. O primeiro é rezar pela alma do Papa, agradecer a Deus pelo dom da vida e por tudo aquilo que ele realizou, confiantes de que Deus continuará sua ação, pois Ele faz bem todas as coisas. O Papa Francisco faleceu em uma segunda-feira, a segunda-feira da Pasquita, que na Itália ocorre um dia depois daquele impressionante encontro com o povo na Praça de São Pedro. Por isso, nosso primeiro comportamento deve ser o de oração. O segundo momento do conclave é dedicado à nossa oração para que os cardeais sejam iluminados e que a ação do Espírito Santo dê a resposta que a Igreja precisa hoje. Muitas vezes nos distraímos com o que a imprensa diz, que está mais preocupada em especular sobre quem será o próximo Papa. No entanto, vimos que papas como João Paulo II e Papa Francisco foram grandes novidades nos conclaves, pois não estavam entre os principais nomes indicados nas listas de possíveis candidatos. Isso mostra que o que diz a imprensa frequentemente não reflete a decisão dos cardeais, já que ali há a ação do Espírito Santo. Essa é a nossa fé. Por isso, nosso papel é rezar pela Igreja, para que os cardeais escolham um Papa que seja a resposta mais adequada às necessidades da Igreja de hoje. Independentemente de quem assumir o solio pontifício, que ele seja o guia dessa nossa barca, que é a Igreja, e que sejamos fiéis e obedientes.
- Existe algum momento ou ensinamento do Papa que você acredita que continuará a inspirar as pessoas?
Pe. Leandro: “O mundo inteiro sente hoje a ausência do Papa Francisco, um líder que soube ser, de fato, a presença de Deus na Terra. Acredito que o próximo Papa terá a missão de continuar esse legado: ser luz, esperança, lutar pela paz e não temer pronunciar palavras ou fazer apelos, mesmo diante daqueles que aparentam ter o coração endurecido. O Papa Francisco demonstrou a capacidade de dialogar com todos, tanto com seus amigos quanto com aqueles que o criticavam. Ele nunca deixou de estender a mão a ninguém. Esse é, para nós, um grande exemplo de humanidade, pois, ao colocar a pessoa em primeiro lugar, ele não poderia agir de outra forma.”
Fonte: fotos disponibilizadas pelo Pe. Leandro
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